Thursday 13 August 2009

Marina

Marina era uma mulher vistosa. A idade parecia não a beliscar apesar dos seus quarenta anos. Bem sucedida profissional e financeiramente, vivia só num 4º andar no número 63, o prédio mais recente do bairro. Não era casada e ninguém das suas relações mais próximas lhe conhecia namorado. Comentava-se lá na rua em tom divertido que seria lésbica mas em boa verdade também não existiam indícios que confirmassem ou desmentissem essa opção. Mas isso não demovia a sua vizinhança masculina da colectiva cobiça.

-*-

O sexo aconteceu naquela noite, como de costume. Na secreta opinião de Joaquim, nem bom nem mau, mas sempre deu para descarregar o stress acumulado ao longo de mais um dia de trabalho rotineiro, cujo escape habitual passa por imaginar as suas colegas de serviço semi-nuas e em poses eróticas ou de sexo explicito com sua Alteza, ele próprio.

Para Isabel o sexo era apenas um mais compasso de espera antes de adormecer, suportável apenas pela brevidade com que invariávelmente ocorria, quase sempre exausta por mais um dia passado na qualidade de doméstica à força pelo desemprego.

O sexo aconteceu naquela noite quente de verão. E como de costume, Joaquim beijou Isabel por breves instantes e ainda ofegante deixou-se escorregar no suor dos corpos para o seu lado da cama. Retomado o folego, Joaquim pegou no maço de tabaco e no isqueiro e dirigiu-se para a janela do quarto. Isabel sempre detestara o cheiro do tabaco. Apoiado no parapeito, acendeu o cigarro quando ouviu a voz de um homem exclamar alto, o mesmo tipo de exclamação que se ouve quando alguem bebeu um copo de vinho excepcional: “AAAaaah...”.

Curioso, deslocou o olhar para o arrogante emissor de tal perturbação da paz nocturna. Ficou estupefacto. O homem estava rigorosa e arrogantemente nu, fumando à varanda do apartamento "daquela vizinha toda boa, a D. Marina do 63". Afinal de contas parecia que a tipa não era fufa de todo. E pelo andar da carruagem deveria ser uma autentica fera na cama, para deixar o homem naquele estado de obsceno prazer. Olhou para trás para Isabel para lhe dar conta da novidade, mas esta já dormia profundamente enroscada para o outro lado. Quando voltou a olhar para a varanda de Marina já esta se encontrava vazia. Encolheu os ombros e foi-se deitar. Ao encostar a janela ainda foi a tempo de ouvir o mesmo sujeito tossir . “É só tabaco” pensou com desdém.

Acordou a meio da noite como se pressentisse algo. Ficou imóvel à escuta durante alguns segundos, mas quando se preparava para voltar a adormecer ouviu de novo aquela exclamação de prazer pela voz do mesmo homem. Impressionado olhou para o relógio da cabeceira e concluiu que já estariam “naquilo” à mais de 5 ou 6 horas. Logo ali desejou conhecer intimamente a misteriosa D. Marina, e fazendo aquilo que sabe fazer melhor, adormeceu por entre sonhos de fantásticas acrobacias sexuais.

-*-

Por mero acaso, Marina cruzou-se com Joaquim alguns dias depois, quando disputavam um lugar de estacionamento. Joaquim, cavalheiro, cedeu o lugar a Marina, e ela apareceu-lhe à janela do carro quando Joaquim finalmente estacionou.
“Agradeço-lhe a amabilidade.” disse Marina – “Nota-se que é um homem que sabe exactamente como agradar a uma mulher. Como se chama?”. Joaquim nem queria acreditar. A mulher dos seus sonhos ali na sua frente e interessada na sua pessoa. Fantástico.

-*-

Os meses seguintes foram salpicados de conversa de circusntancia aqui e ali. Joaquim já conhecedor de alguns hábitos de Marina, fazia o possível para chegar a casa ao mesmo tempo, não perdendo a oportunidade de se encontrar “casualmente” com ela, e sempre era mais dois ou três dedos de conversa.

Um dia Marina foi directa ao assunto:“Olhe vou ser sincera consigo. Eu nunca fui pessoa destas coisas, de engates de rua, mas quando olhei para si pela primeira vez senti uma quimica como já não sentia à muito tempo e sendo da opinião que a vida é demasiado curta para não se aproveitar os bons momentos que ela nos oferece, que tal fazer-me uma visita um destes dias? Pode ser amanhã à noite mesmo.” Joaquim hesitou na resposta e Marina continuou “Um homem como você tem concerteza a inteligência para inventar uma boa desculpa. Não me desiluda, fico à sua espera.”
Fora de si enquanto se dirigia para casa aos pulinhos, Joaquim teve alguma dificulade em controlar toda aquela excitação antes de abrir a porta de casa. Depois com um ar de aparente casualidade informou Isabel que no dia seguinte iria ficar a trabalhar até mais tarde. Isabel encolheu os ombros e continuou a fazer o jantar. “Fantástico” pensou ele – “Não podia ser mais perfeito”.

-*-

A noite seguinte chegou e Joaquim apresentou-se nervosamente à porta de Marina, sendo recebido por uma visão fantástica, saída de um daqueles websites pornográficos que tanto lhe agradava frequentar; Marina envergava as vestes de uma Dominadora. Botas de salto alto, um apertado corpete de couro que acentuava as suas curvas, cabelo apanhado ao alto e uma chibata na mão, que batia compassadamente de encontro ao cano da bota que subia até à coxa – “Quinzinho, vais ser um lindo menino e vais fazer tudo o que a Dona te mandar, não vais?!”. Joaquim acenou com a cabeça em sinal afirmativo, não cabendo em si de tanta excitação. Quem pode resistir a uma mulher deste calibre. Adivinhava-se uma noite interessante.

Num ápice viu-lhe ser posta uma coleira ao pescoço, deitado de barriga para baixo sobre uma pequena mesa, de mãos e tornozelos amarrados às pernas desta. Depois veio o toque final: uma mordaça em forma de bola colocada como se fosse um arreio para cavalos. Estava perfeitamente incapaz de se mexer ou falar o que fosse, completamente à mercê dos desejos dela.

Depois de se ter entretido a estimular Joaquim das mais diversas formas, Marina tirou de uma gaveta um objecto negro e luzidio. Depos aproximou-se dele, exibindo um reluzente e imponente dildo de 30 centimetros, que deixou deslizar perigosamente pelo corpo.

Sentada à sua frente e, gemendo num lento crescendo, entregou-se à auto-gratificação sexual durante largos momentos. Joaquim estava louco, quase a explodir de desejo. Marina teve um e outro orgasmo, contorcendo-se deliciosamente. Quando os espasmos se diluiram, levantou-se calmamente e envergando o dildo como uma adaga dirigiu-se lentamente para as costas dele. Sorrindo sussurrou-lhe carinhosamente: “Agora é a tua vez”.
"É lá! Tu não vais fazer o que eu penso que...!" Queria dizer-lhe para parar, que isso não estava nos planos e que nunca iria permitir semelhante coisa, mas da sua boca amordaçada só se percebiam gemidos. Quanto mais gemia, mais Marina ficava excitada. Queria sair dali debatendo-se histéricamente enquanto sentia o fresco do gel a ser abundantemente espalhado por entre as suas nádegas, mas era uma missão impossível. Incrédulo, não tinha ainda tido tempo para pensar se tudo não se tratava de uma brincadeira de mau gosto, já o indiscreto e tenebroso objecto sexual o penetrava bem fundo, muito para lá de todos os pudores, enquanto sem grandes pressas, Marina o satisfazia oralmente.



Cansado e humilhado, Joaquim permanecia imovel enquanto ia sendo libertando da prisão a que fora sujeito. Perdera a noção do tempo, a postura e sabe-se lá mais o quê. “Apetece-te um cigarro? Toma um dos meus... mas tens de ir fumar lá para fora” disse-lhe Marina apontando para a varanda do quarto. Em absoluto silêncio Joaquim dirigiu-se lentamente para lá de cigarro na mão, caminhando ainda curvado pelas horas passadas na mesma posição. Já do lado de fora , sentiu o fresco da noite como uma benção e esticou a coluna , soltando uma dolorosa exclamação: “AAAaaah...”

Enquanto esperava que a dor aliviasse pareceu-lhe reconhecer uma voz que tossia um pouco mais abaixo. Localizou a voz e vislumbrou a ponta acesa de um cigarro na direção da janela da sua própria casa.

1 comment:

Lilith said...

Está bem contado, sim senhor.